quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Vocabulário de internet não é prejudicial


O estudo constatou que quem tc msg no cel o dia todo, entre abrax e bjusss, tem maior capacidade de escrita e leitura do que quem não faz isso.

A revelação pode ser contraintuitiva, mas sou obrigado a dizer, com humildade, que não me surpreende nem um pouco. Há cerca de uma década, costumo tranquilizar leitores alarmados dizendo que, filosoficamente, não há diferença entre a notação cifrada da cultura virtual e a velha Língua do Pê. Em ambos os casos, trata-se de brincar com a língua, o que é uma forma de tomar posse dela, e criar um patoá que, como as gírias em geral, cumpre a função de reforçar a identidade de um grupo.

Decorre daí que a reação apocalíptica dos que se julgam zeladores da língua formal também é compreensível, mas apenas como parte de um jogo de cartas marcadas. Como diz o historiador Peter Burke, estudioso da história das gírias, "enquanto muitos grupos de pessoas definem sua identidade por meio do uso de jargão, um grupo, o dos críticos, define a sua por meio da rejeição do jargão dos outros".

Ah, mas com o tempo os pequenos bárbaros digitais vão acabar esquecendo que msg é "mensagem" e transformando a ortografia em bagunça? Duvido muito, mas, se mudanças do gênero vierem a ocorrer, convém lembrar que a ortografia é apenas o verniz da língua, uma roupa que as palavras vestem e abandonam conforme os ditames do tempo. Gravata já foi gorovata em bom português, e nossa civilização não se tornou ágrafa quando deixou de ser.


Fonte: Veja

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